Sobre o Transtorno do Humor Bipolar
Transtorno caracterizado por dois ou mais episódios nos quais
o humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente
perturbados, sendo que este distúrbio consiste em algumas
ocasiões de uma elevação do humor e aumento da energia e da
atividade (hipomania ou mania) e em outras, de um rebaixamento
do humor e de redução da energia e da atividade (depressão).
Pacientes que sofrem somente de episódios repetidos de hipomania
ou mania são classificados como bipolares. (Classificação
Internacional de Doenças - CID 10)
"O Transtorno Bipolar é tratado com medicação, e estamos
avançando bastante nessa área. Quanto menos frequentes forem os
episódios, então melhor será o prognóstico a longo prazo" (Drª
Melissa DelBello. Professora de Psiquiatria do Centro Médico
Hospitalar de Cincinnati/EUA. Cientista e pesquisadora de
Farmacologia aplicada ao Transtorno Bipolar)
No chamado Pólo Maníaco do TB a pessoa sente-se eufórica, falante, com pensamento acelerado, agitada e frequentemente com idéias de grandeza (megalomania), comprar compulsivo, irritação, explosões de ira, pensamento acelerado, tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo e pode envolver-se em situações de risco. Porém, esse estado pode simplesmente desaparecer de um dia para o outro e a pessoa passa a apresentar o comportamento descrito abaixo.
No pólo depressivo (por isso chama-se bipolar - dois pólos, como pólo norte e sul) a pessoa pode experimentar severos episódios de depressão. O ânimo desaba, a auto-estima fica rebaixada, sentimentos de culpa e de frustração passam a dominar os pensamentos e os sentimentos da pessoa. Uma tristeza surge de repente, mesmo que no dia, na semana ou no mês anterior a pessoa tenha experimentado sensações de elevada confiança e tenha pensado em realizar grandes coisas e feito planos para melhorar de vida.
Perguntas Frequentes sobre o Transtorno Bipolar
Como é Diagnosticada essa
Doença?
O primeiro passo a fim de se obter um diagnóstico apropriado é
através da consulta com o Médico Psiquiatra. O Transtorno do
Humor Bipolar não pode ser diagnosticado nem através de exames
laboratoriais e tampouco através de exames de imagem
(tomografia, ressonância), mas sim pela avaliação psiquiátrica.
Bipolaridade NÃO É loucura! Logo, se você ou seu médico
suspeitam que possa haver sintomas de bipolaridade atuando em
seus pensamentos, afetos ou comportamento, não há porque perder
tempo. Busque uma avaliação psiquiátrica.
E lembre-se: Há tratamentos eficazes!
Qual é a Causa do Transtorno
Bipolar?
A causa do Transtorno Bipolar ainda não é totalmente conhecida.
Fatores hereditários, neuroquímicos e ambientais provavelmente
interagem em vários níveis a fim de desempenhar um papel no
surgimento e na progressão da doença bipolar. O pensamento atual
é que este seja um transtorno biológico que ocorre
predominantemente em uma parte específica do cérebro e que
também possa ser devido a um mau funcionamento dos
neurotransmissores (mensageiros químicos no cérebro). Sendo um
transtorno com componentes biológicos, ele pode estar latente e
ser ativado espontaneamente ou pode ainda ser desencadeado por
estressores na vida do indivíduo acometido pelo Transtorno
Bipolar.
Os pesquisadores acreditam que tanto a genética como o ambiente
têm um papel no desenvolvimento e na manifestação do Transtorno
Bipolar.
Uma vez que a doença tende a ser encontrada em famílias, um
fator genético estaria provavelmente na raiz da doença. Um
número muito grande de pessoas com diagnóstico de TB tem um
parente que sofre de algum tipo de depressão ou do Transtorno
Bipolar.
Estudos têm demonstrado que tanto as fases maníacas como as
fases depressivas (os períodos ou pólos do transtorno) podem ser
desencadeadas por incidentes envolvendo traumas psíquicos e/ou
físicos, tais como mudanças ou eventos que possam alterar o
ritmo de vida, a perda de um relacionamento, problemas
financeiros, dentre outros eventos.
O Transtorno Bipolar tem Cura?
Aqui a resposta mais adequada a este questionamento é que o
Transtorno Bipolar tem controle e tratamento. Na realidade,
ainda não há um consenso universal sobre se há ou não cura
definitiva para o TB.
Em nossa experiência clínica temos verificado o que afirma a
literatura psiquiátrica, ou seja, a doença bipolar tende à
cronificação. Lembrando que com o tratamento adequado os
resultados são bastante promissores.
Por isso também é importante o diagnóstico correto feito pelo
Médico Psiquiatra, não só a fim de que a melhor conduta
(tratamento) seja estabelecida para a doença bipolar, bem como a
fim de se evitar diagnósticos equivocados. Pior do que
simplesmente receber um diagnóstico de Transtorno do Humor
Bipolar é receber um diagnóstico de uma doença que a pessoa não
tem. Diversos pacientes que nos procuram no consultório, vindo
com diagnóstico de Transtorno Bipolar na realidade não são
portadores dessa doença.
Para se ter certeza consideramos a avaliação pela Psiquiatria
indispensável.
A Psicose Maníaco-Depressiva
Pelo 2º século AD, a mania e a melancolia eram consideradas
sintomas de duas doenças diferentes. Soranus, um médico grego,
ajudou a perpetuar esta visão. Muitas das informações de que
hoje se dispõe sobre a "depressão maníaca" são resultado dos
estudos de outro médico grego: Aretaeus, o qual viveu entre os
anos 30 e 150 AD na cidade de Alexandria. Este médico muito
contribuiu a fim de unificar os conceitos de mania e de
melancolia em uma única entidade psicopatológica.
Avicena da Pérsia diferenciou o transtorno bipolar de outras
doenças psiquiátricas, tais como a esquizofrenia e a mania.
Todavia, os atuais conceitos sobre o transtorno bipolar foram
desenvolvidos somente a partir de 1850 pelos estudos de
Baillarger, da Academia Imperial Francesa de Medicina.
Baillarger usou o termo "insanidade em dupla forma" a fim de
caracterizar o transtorno bipolar. Andreas Marneros, da
universidade alemã Martin Luther pesquisou estes conceitos e em
2001 os reformulou chamando-os de "renascimento da bipolaridade
na era moderna".
Emil Kraepelin (1856-1926), um psiquiatra alemão, estudou o
comportamento de pessoas portadoras de transtorno bipolar. É ele
quem detém os créditos pela conceitualização da bipolaridade até
hoje.
É corrente se afirmar que pessoas conhecidas como Goethe,
Vincent Van Gogh, Leo Tolstoy, Theodore Roosevelt, Abraham
Lincoln e Winston Churchill eram portadores de bipolaridade, o
que ajudou a divulgar e a disseminar informações sobre esta
doença psiquiátrica.
Será que eu sou Bipolar?
Assim como na maioria das patologias psiquiátricas, não há exame
de sangue, exame de imagem (Tomografia Computadorizada,
Ressonância Magnética) ou de traçado (Eletroencefalograma) que
possa servir para o diagnóstico do Transtorno do Humor Bipolar.
O diagnóstico é eminentemente clínico (pela observação clínica
do psiquiatra - clinicar significa: observar).
Na realidade, assim como existem muitas pessoas que são
portadoras de bipolaridade e não o sabem, também há aquelas que
receberam esse diagnóstico sem na verdade possuírem a doença. O
médico mais indicado para fazer este diagnóstico (ou excluí-lo,
quando for o caso) é o médico psiquiatra.
Todavia existem algumas características muito marcantes nos
portadores de Transtorno do Humor Bipolar. Por exemplo: todos
nós passamos por momentos de altos e baixos, porém entre os
portadores de bipolaridade essas variações do humor podem estar
por demais exacerbadas. Pode-se dizer que os “picos e os vales”
são mais acentuados, embora a simples variação do humor não
queira necessariamente dizer que haja a presença da
bipolaridade.
A bipolaridade é uma doença psiquiátrica clinicamente importante
e pode chegar a interferir de modo negativo e dramático no
funcionamento global do indivíduo. Alguns portadores do THB
podem tender a apresentar mais episódios depressivos do que
maníacos (o pólo eufórico da bipolaridade). Mas o contrário
também pode ocorrer. Os sintomas da bipolaridade podem variar
grandemente de uma pessoa para outra, com diferenças
imprevisíveis nos padrões de apresentação desta doença
psiquiátrica, incluindo severidade e frequência de ocorrência
dos episódios maníacos ou hipomaníacos, episódios depressivos e
episódios mistos.
Em nossa opinião, muitos dos “testes online” para auto-avaliação
sobre a bipolaridade podem confundir muitas pessoas que os
realizam. Se você tem dúvidas sobre a possibilidade de estar
apresentando sintomas e sinais do Transtorno Bipolar, a decisão
mais acertada é conversar com seu médico, e se for o caso, ser
avaliado (a) por um médico especialista em Psiquiatria.
Tratamento do Transtorno do Humor
Bipolar
Sobre o tratamento do Transtorno do Humor Bipolar, bem assim
como para qualquer outra doença, seja ela psiquiátrica ou não,
vale o velho e sábio lema médico: Curar, se possível, aliviar
sempre! O que com isso queremos dizer é que a primeira coisa a
ser feita é proporcionar ao paciente um alívio dos sintomas da
doença, o que normalmente se faz prescrevendo medicação que
estabilize o humor, ou seja, que interfira na variação do humor
característica do THB (Transtorno do Humor Bipolar). Os
medicamentos de primeira escolha são todos aqueles que
proporcionam esse efeito, ou seja, que livrem o paciente da
dança euforia-depressão o mais rápido possível. Lembrando aqui
que há pessoas portadoras do THB que permanecem mais tempo
eufóricas (o chamado pólo maníaco) do que depressivas. E há
aquelas que apresentam um comportamento oposto, permanecem mais
tempo depressivas (pólo depressivo) do que eufóricas ou
irritadas, ou ainda agitadas.
As medicações mais modernas incluem os estabilizadores do humor
pertencentes à classe dos antiepilépticos. Dentre estas
medicações mais modernas, hoje também se utiliza (e com
excelentes resultados) os chamados antipsicóticos atípicos. E em
muitos casos a melhora clínica é dramática, ou seja, é
impressionante.
E não podemos esquecer do Carbonato de Lítio, que até bem pouco
tempo era o medicamento de escolha para a estabilização do humor
em diversas situações. Todavia, o Lítio vem perdendo
progressivamente seu papel de destaque no tratamento do THB em
razão da existência de outros medicamentos superiores e com
menos efeitos adversos.
O uso de antidepressivos no tratamento do THB deve ser avaliado
com cautela, pois em alguns casos podem até piorar a doença.
A escolha da medicação mais indicada em cada caso deve ser uma
decisão de comum acordo entre o psiquiatra e o paciente. É bom
que o paciente tire todas as dúvidas que tiver e que o
psiquiatra explique os efeitos desejáveis e também os
indesejáveis da medicação escolhida.
Também o tratamento psicoterapêutico (- a psicoterapia - o
tratamento sem medicação) pode trazer ótimos benefícios a quem
apresente o THB. Nós, psiquiatras, frequentemente nos utilizamos
de um tratamento combinado, ou seja, medicação e psicoterapia. O
que desejamos, todos nós, psiquiatras, paciente e familiares, é
a recuperação da pessoa, e dentro do menor tempo possível.
Nossa Experiência com a
Bipolaridade
Se tivéssemos que citar alguns dos transtornos psiquiátricos com
os quais estamos mais familiarizados em nosso dia a dia, no
território dos tratamentos em Psiquiatria, não haveria a menor
dúvida em citarmos o Transtorno do Humor Bipolar como sendo um
deles. E isto por diversas razões.
Uma delas é o fato de a Bipolaridade se constituir em um
transtorno psiquiátrico de enorme importância na Psiquiatria, o
que desperta, de modo importante, o nosso interesse por essa
condição psiquiátrica. Também tem sido pela luta contra a
Bipolaridade que diversos novos estudos e pesquisas têm sido
conduzidos com a finalidade de não somente conhecer melhor o
Transtorno Bipolar mas também as fascinantes e curiosas
variações do comportamento humano, quer sejam elas patológicas
ou não.
Mais importante ainda é o conceito do Espectro Bipolar, o que
denota um vasto território em Psicopatologia e com fronteiras
ainda não muito bem delimitadas entre o que sejam as variações
normais do humor e as variações patológicas. É fato, todavia,
que assim como variações normais do humor podem (e são)
confundidas com a Bipolaridade autêntica, também, por vezes, as
variações patológicas do humor têm sido confundidas com
variações fisiológicas (naturais) do humor de uma pessoa.
Aliás, este é um dos problemas mais frequentes que temos
observado em nossa experiência com o tratamento de pessoas que
nos procuram afirmando serem portadoras do Transtorno do Humor
Bipolar (THB). Isto porque muitas dessas pessoas, algumas delas
tendo recebido o diagnóstico de Bipolaridade emitido por médicos
não especialistas em Psiquiatria, não são e nunca serão
bipolares. Por outro lado, há aquelas que chegam ao nosso
consultório afirmando serem portadoras de Depressão, quando na
realidade são bipolares autênticas. Porém, uma avaliação
cuidadosa e criteriosa de cada caso pelo especialista em
Psiquiatria é, na maioria das vezes, o suficiente para que se
chegue a um diagnóstico preciso e a um tratamento adequado e
eficaz.
Finalizando, a Doença Bipolar se reveste de características
muito próprias e específicas, dentre as quais se destacam o
problema da sua cronicidade, sobre a qual o consenso geral na
psiquiatria parece corroborar esta sua característica, e também
as suas multiformes apresentações clínicas, o que faz do THB uma
como que doença polifacetada, restando aos portadores deste
transtorno psiquiátrico uma atitude séria e contumaz a ser
tomada frente a um transtorno cujo final do tratamento pode ter,
sim, um final feliz.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo