Síndrome do Pânico, Ansiedade Paroxística, Crise de Pânico
“Era noite e eu estava reclinado sobre o sofá da sala. De
repente, comecei a perceber uma sensação apavorante. Era como se
eu estivesse morrendo ou como se eu fosse morrer a qualquer
momento. Não havia, aparentemente, nada que pudesse justificar
aquela sensação de pânico e de terror. Uma sensação de morte, de
total perda de controle, que vinha em forma de sucessivas ondas
de pavor inexplicável. Eu não tinha absolutamente nenhum
controle sobre aquilo, e aquela falta de controle me apavorava
ainda mais. Era um medo terrível de algo que eu, simplesmente,
não sabia o que era. Comecei, então, a gritar e parecia que não
haveria no mundo inteiro uma solução para aquele medo mesclado
com terror. Era como se apenas uma única coisa fosse certa: Eu
iria morrer.”
Este é o relato de um paciente que foi tomado por uma aguda
crise de pânico. Quando pude intervir, estando eu no local,
mediquei-o e somente após cerca de uma hora, o paciente
adormeceu e a crise desapareceu. Após o tratamento, nunca mais
houve nenhuma outra crise semelhante.
O Transtorno do Pânico foi classificado como um transtorno de
ansiedade pelo manual de diagnósticos mentais dos
norte-americanos, o DSM, Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders (Manual de Estatística e de Diagnóstico de
Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria e
também pela CID, a Classificação Internacional de Doenças, mais
utilizada no continente europeu e também no Brasil. Esta
síndrome consiste de inexplicáveis crises de grande ansiedade,
estresse, medo e pânico que acometem muitas pessoas, a qualquer
hora e em qualquer lugar. É também chamada de Síndrome do Pânico
ou Transtorno de Ansiedade Paroxística, ou ainda, Ansiedade
Paroxística Episódica. Veja a definição da Síndrome do Pânico
dada pela CID10:
"A característica essencial deste transtorno são os ataques
recorrentes de uma ansiedade grave (ataques de pânico), que não
ocorrem exclusivamente numa situação ou em circunstâncias
determinadas mas de fato são imprevisíveis. Como em outros
transtornos ansiosos, os sintomas essenciais comportam a
ocorrência brutal de palpitação e dores torácicas, sensações de
asfixia, tonturas e sentimentos de irrealidade
(despersonalização ou desrealização). Existe, além disso,
freqüentemente um medo secundário de morrer, de perder o
autocontrole ou de ficar louco. Não se deve fazer um diagnóstico
principal de transtorno de pânico quando o sujeito apresenta um
transtorno depressivo no momento da ocorrência de um ataque de
pânico, uma vez que os ataques de pânico são provavelmente
secundários à depressão neste caso." (CID 10 - Classificação
Internacional de Doenças).
Observe que a definição da Síndrome do Pânico dada pela CID 10
diz: "ataques recorrentes de uma ansiedade grave", ou seja, a
ansiedade é o ponto fundamental de enfoque na abordagem da
Síndrome do Pânico. Em outras palavras, isto significa que a
Crise de Pânico é uma manifestação clínica intensa de um surto
de ansiedade. Isto dizemos pois de modo geral as pessoas
portadoras desta Síndrome já apresentam previamente um
componente ansioso em seu quadro clínico. Deduz-se, pois, que
todos os indivíduos ansiosos possuem uma predisposição maior a
manifestarem esta Síndrome, embora muitas pessoas ansiosas
jamais terão Síndrome do Pânico.
Um diagnóstico precipitado pode ter conseqüências desagradáveis,
por isso o médico psiquiatra deve ser consultado. Cargas de
adrenalina são lançadas na corrente sanguínea sem que haja um
perigo aparentemente real, e uma reação de luta e fuga tem lugar
podendo levar o indivíduo a um estado de pânico e/ou à uma
horrível sensação de morte iminente. Muitas dessas pessoas não
conseguem mais sair de casa por temerem que as crises aconteçam
no meio da rua, no trabalho, na escola ou na faculdade, uma
condição médica psiquiátrica conhecida por agorafobia. O
transtorno do pânico pode evoluir com ou sem a presença de
agorafobia ou de fobias sociais.
A síndrome do pânico pode chegar a atingir níveis de intensidade
tão dramáticos que chegam a incapacitar o indivíduo para o
trabalho e para a vida social, e as consequências muitas das
vezes podem ser chegar a ser devastadoras. A situação pode se
agravar e piorar ainda mais se o isolamento, e não o tratamento
psiquiátrico, tiver sido a opção do paciente, voluntária ou
involuntariamente. Devido ao isolamento, muitos desses pacientes
podem começar a sofrer também em razão de episódios depressivos.
A coexistência de mais de um transtorno psiquiátrico
(comorbidade) nos pacientes portadores da Síndrome do Pânico não
é infrequente. Podem coexistir no mesmo paciente a Ansiedade
Generalizada, o Pânico e a Depressão, por exemplo. A presença de
mais de um transtorno psiquiátrico coexistindo em um mesmo
paciente é um dos precipitadores de um maior sofrimento, e
muitas vezes isto o leva a procurar auxílio médico mais
rapidamente. O United States Public Health Service (Serviço de
Saúde Pública dos Estados Unidos) publicou o resultado de dois
estudos denominados de ECA, Epidemiologic Catchment Area e o
NCS, National Comorbidity Study mostrando que as fobias, o
transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno do pânico
respondem, juntos, por 36.6 % das taxas de prevalência de
transtornos mentais em indivíduos com idades entre os 18 e os 54
anos.
Alguns pacientes, após sucessivos episódios de Estresse
(estresse quer dizer "pressão") persistente e de ansiedade, que
podem durar semanas ou meses, parecem possuir mais chances de
apresentar a sintomatologia compatível com a síndrome do pânico.
Na realidade, nos chamados estados mistos, muito frequentes,
podem coexistir transtornos ansiosos e transtornos do humor. A
Depressão em si pode mesmo vir a ser a causa do início de um
quadro de transtorno de pânico, lembrando, todavia, que a
síndrome do pânico é classificada como um transtorno de
ansiedade, e o transtorno depressivo é classificado como um
transtorno do humor nos modelos de diagnóstico psiquiátrico
chamados de categoriais, como na da CID (Classificação
Internacional de Doenças).
De modo simplificado, a Síndrome do Pânico pode ser entendida
como uma situação de grande ansiedade que pode se manifestar na
forma de surtos ansiosos de grande intensidade, as crises de
pânico. Pode ser desencadeada pelo Estresse, por um estado de
fobia, ou simplesmente ocorrer de modo espontâneo, sem uma causa
aparente.
Concluindo, podemos definir para o leitor a Síndrome do Pânico
como um estado de intensa e lancinante ansiedade que normalmente
surge de modo súbito, quando menos se espera, daí o receio que
muitos sentem de serem pegos de surpresa na rua, no trabalho, na
escola ou mesmo nos momentos de lazer. As palpitações são
frequentes, as tremulações, sensações de esquecimento abrupto,
de desnorteio e um medo de perda de controle e até um medo da
morte são sensações que comumente são relatadas pelos pacientes
acometidos por esta síndrome. Os tratamentos bem conduzidos
costumam apresentar ótimos resultados. O diagnóstico correto e o
tratamento precoce e adequado são armas poderosas a fim de
lidarmos com esta doença que a tantos tem atormentado.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo