Nomofobia. O Medo de Ficar sem o Celular
O que vem a ser isto?
Fobia é uma palavra que deriva do Grego e que significa: Medo.
Em definição simples, Nomofobia é o termo que passou a ser
utilizado para a fobia (ou o medo) de ficar sem a possibilidade
de se comunicar pelo telefone celular. O termo deriva do Inglês
no mobile phone phobia, daí a contração da expressão para o
termo Nomophobia (Nomofobia em Português). A Nomofobia se
expressa na angústia de se ficar privado do celular e desta
forma não poder se comunicar com a família, com os amigos,
confirmar ou desmarcar compromissos, ou ainda de manter contato
com o trabalho. O fenômeno que começou com os celulares já se
estendeu também aos Smartphones.
O termo Nomofobia surgiu em um estudo realizado no Reino Unido
que estudava situações de estresse relacionadas ao uso de
celulares. O assunto começou a ganhar popularidade desde que
jornais britânicos, por volta de 2008, começaram a publicar
matérias a respeito. A pesquisa citada relata que mais de treze
milhões de britânicos relatam já ter experimentado sensações de
ansiedade e angústia pelo receio de ficar sem a possibilidade de
se comunicar pelo celular. Nos achados dessa pesquisa, foi
também constatado que havia pessoas que se sentiam ansiosas
simplesmente pelo fato de o celular estar desligado.
Atualmente, existem ainda diversos outros estudos relacionados
ao uso da tecnologia no dia a dia das pessoas, grande parte
deles relacionados ao uso excessivo de computadores, ao abuso
dos videogames e também a determinadas mudanças de comportamento
em razão de um envolvimento patológico com a chamada realidade
virtual.
Sintomas
O sofrimento essencial desta condição é a ansiedade. Há
determinados casos onde se pode chegar até a uma sensação de
pânico em razão de se ficar privado da possibilidade de se
comunicar pelo celular. Há pessoas que já manifestam sinais de
ansiedade em menos de uma hora se ficarem sem verificar se há
mensagens no seu celular. Angústia, dores de estômago, agitação,
tonturas, suor frio, náuseas, aceleração dos batimentos
cardíacos e até rebaixamento do humor têm sido relatados por
pessoas que sofrem de Nomofobia.
Os hábitos regulares do dia a dia podem tender a ser modificados
através de estratégias que a pessoa possa procurar adotar com a
finalidade de se certificar de que seu celular estará não
somente sempre à mão, mas também operacional. Porém, estes novos
hábitos adotados nem sempre são adequados ao dia a dia dessas
pessoas. Alguns dos problemas para estes indivíduos são os
locais onde não é permitido utilizar o celular em todo momento
que sintam a necessidade de usá-lo, como em reuniões de
trabalho, durante aulas, dentro de aviões, em cinemas e teatros
ou em bancos, por exemplo. Quando a pessoa se vê diante destas
restrições ao uso do celular, a ansiedade pode começar a se
manifestar, em maior ou em menor intensidade. E isto pode causar
sofrimento.
Consequências
Assim como em algumas condições psiquiátricas, como no
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), por exemplo, o portador
de TOC frequentemente busca disfarçar dos outros a sua doença.
Por semelhante modo, a pessoa que sofre de Nomofobia pode
eventualmente se sentir desconfortável ao perceber que pessoas à
sua volta já começam a notar alterações no seu comportamento ou
atitudes estranhas em relação aos seus aparelhos celulares. E isto pode
aumentar ainda mais a ansiedade. Quando estas pessoas se tornam
excessivamente dependentes do aparelho celular, isto pode
torná-las bastante inseguras, e esta insegurança pode vir a ser
prejudicial em momentos onde elas precisam desempenhar funções
específicas no trabalho, na faculdade, em reuniões de negócios,
dentre outras situações. Em consequência da fobia de ficar sem o
celular, ou até mesmo de se deparar com a bateria descarregada,
o rendimento geral do indivíduo pode vir a declinar
consideravelmente. E isto pode se traduzir em prejuízos diversos
para a vida destas pessoas, além da qualidade de vida que,
evidentemente, também fica comprometida.
O limite entre um comportamento ou hábito corriqueiro e um
comportamento patológico é o início de prejuízos e de
sofrimentos causados pelo comportamento doentio. Muitas pessoas
podem experimentar algum grau de desconforto, de inquietação e
até mesmo de ansiedade por estarem privadas de seus celulares
por algum tempo. Contudo reconhecem ser isto algo possível de
ocorrer e não se desesperam em razão disso. Porém, se já há
sofrimentos persistentes e prejuízos evidentes à pessoa, pode-se
então já ser caracterizada a Nomofobia.
Percebendo o Problema
Por vezes, pode ser difícil de se perceber esta condição.
Primeiramente, porque vemos pessoas com celulares todos os dias
e por todos os lados, e isto dentro e fora de casa ou do
ambiente de trabalho. Além do que, é comum vermos pessoas
falando alto ao celular, por vezes agitadas e nervosas, como
também quase todos os dias vemos pessoas dizendo: “perdi meu
celular!” ou “onde deixei meu celular?”, sem que isto
necessariamente guarde uma relação com a Nomofobia. Segundo,
porque esta condição ainda é desconhecida da maioria das
pessoas. Porém, ainda que muitas pessoas não saibam o que seja a
Nomofobia, familiares e amigos podem começar a perceber a
existência de uma relação de ansiedade com as queixas
relacionadas ao aparelho celular.
Para muita
gente hoje em dia, estar “desconectado” pode soar como algo
inadmissível. E isto envolve todo o conjunto de equipamentos que
permitem à pessoa permanecer “conectada” o tempo que desejar.
Estamos falando dos laptops, desktops, tablets, smart-phones,
celulares, dentre outros. E cada vez mais se detectam problemas
no território da Psiquiatria decorrentes do abuso destes
recursos tecnológicos. Talvez os casos mais conhecidos sejam os da adição (a
dependência patológica - ou vício) a computadores e a jogos de
videogame. No caso da Nomofobia, especificamente, há estudos que
sugerem que esta condição tenderá a se agravar nos próximos
anos.
Também pelo fato de vivermos em um mundo cada vez mais violento
e apressado, não é de se admirar que muitos pais se sintam
angustiados se não puderem estar em permanente contato com seus
filhos. Porém, a simples necessidade deste contato, ainda que
permanente, não necessariamente significa a presença da
Nomofobia.
O Tratamento
O primeiro passo é a informação sobre a Nomofobia. Saber o que
é, e também como e porque são desencadeados os sintomas, como já
falamos acima.
Diante disto, há pessoas que após reconhecerem que já se
enquadram, ou que já começaram a apresentar comportamentos
anômalos relacionados ao medo de ficar sem poder se comunicar
pelo celular, já podem começar a adotar algumas medidas a fim de
lidar com o problema. Para algumas delas medidas práticas como
exercitar o autocontrole, mudar hábitos extremados e buscar
novas estratégias para lidar com a comunicação pelo celular já
podem ser medidas eficazes.
Há, todavia, casos mais extremos onde uma intervenção
profissional pode já ser necessária. Neste caso, a Nomofobia
pode ser abordada sob diversos ângulos. Um deles, frequentemente
utilizado para o tratamento de fobias específicas, é a chamada
terapia de exposição.
Este método consiste em um tratamento de exposição progressiva
ao objeto fóbico (aquilo, ou aquela situação que a pessoa teme).
A essência deste método é reverter o condicionamento mental
relacionado à fobia específica. A terapia por exposição é
aplicada segundo o fundamento de que a ansiedade é uma resposta
condicionada que tende a diminuir através da habituação durante
as exposições sistemáticas aos estímulos temidos. É um método
terapêutico frequentemente utilizado no tratamento da Fobia
Social.
Também assim como em outros casos de Fobia, o uso de medicação
pode ser de grande valia, sobretudo para o controle dos
episódios ansiosos que podem, em alguns casos, ser
significativamente sérios. O importante é que haja um alto grau
de especificidade e elevado grau de personalização no tratamento da Nomofobia. A escolha do
tratamento por parte do Psiquiatra convém seja
feita com muita exatidão.
Aqui podemos falar de duas situações. A primeira situação é de
como amenizar o problema da Nomofobia, a segunda é a de como
tratar o problema em si. E é importante que estas situações
sejam entendidas de modo distinto, pois são situações muito
diferentes.
Já existem até mesmo dicas para quem sofre do problema. Dentre
elas se sugerem métodos a fim de se evitar a perda do celular,
nunca deixar de andar sem o carregador do celular, criar backups
dos contatos em outro aparelho, andar com baterias de reserva,
personalizar o serviço de recados da operadora avisando a quem
porventura ligar que o celular poderá estar desligado por algum
tempo, e até mesmo o uso de aparelhos rastreadores para
encontrar celulares perdidos. O problema é que estas situações
não tratam o problema, mas podem até fomentá-lo e piorar a
condição. O ideal mesmo é o tratamento caso a pessoa já esteja
sofrendo e experimentando prejuízos em razão da presença
constatada da Nomofobia.
Amigos e Familiares
A primeira atitude a ser tomada é não lidar com a Nomofobia de
modo debochado, crítico ou jocoso. Há que se entender que
existem pessoas cujos sofrimentos em razão desta condição podem
ser bastante aflitivos. Se a pessoa acometida pela Nomofobia
buscar conversar sobre seu caso, a postura adotada por parte de
quem a ouve deve ser séria e compassiva, pois o sofrimento é
real. E se a pessoa busca falar a respeito, isto já é um passo
importante. O tratamento convém ser encorajado na medida em que
a Nomofobia já tenha se tornado uma condição de aflição
recorrente.
Considerações
O que eu teria a dizer para finalizar é muito simples. Como diz
o antigo prolóquio: "hábitos mal controlados podem se transformar
em vícios". E vícios sempre trazem prejuízos, pelo menos em
termos psiquiátricos. Portanto, a idéia principal aqui é não se
deixar dominar pelos hábitos com potencial para se transformar
em vícios. Aqui o simples e histórico bom senso já pode evitar
muitas dores de cabeça futuras.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo
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