As Pressões do dia a dia e o Adoecimento Psíquico
A Insegurança e o Medo
Quando trabalhei exercendo a medicina em território europeu,
em uma certa ocasião um indivíduo de cerca de cinquenta anos, o
qual ocupava um importante cargo de direção em uma grande
empresa européia, compareceu para uma consulta apresentando uma
atitude demasiadamente rígida, desconfiada e exageradamente
defensiva. Chegava a aparentar um grau de hostilidade inadequada
àquele momento. Porém, devido ao seu aspecto, comportamento, tom
de voz, linguagem não verbal, uma sudorese aparentemente não
justificada, tremores nas mãos e nos músculos da face, um olhar
arregalado e a fala engasgada, logo percebi que havia a
necessidade de prestar-lhe uma atenção mais urgente.
Sua inquietação e aflição eram indisfarçáveis. Já pelo final da
consulta, como que desejando abrir uma brecha em suas próprias
defesas, o paciente fez algumas perguntas de modo mais cortez.
Após uma breve conversa, não muito descontraída, ele passou a
adotar uma postura diferente, em uma atitude agora já bem mais
solícita, passando a se queixar das pressões psicológicas que
vinha sistematicamente sofrendo em seu ambiente de trabalho.
A consulta poderia ter terminado ali com uma frase do tipo “as
coisas não estão fáceis mesmo!”. Porém, a conversa prosseguiu
até que aquele homem abandonou seu comportamento (atitude)
defensivo e passou a expor seus muitos problemas e suas muitas
preocupações pessoais e íntimas. Estava preso a dívidas,
sofrendo pressões enormes no trabalho e estava muito amedrontado
com a possibilidade de perder seu confortável estilo de vida,
mantido a duras penas. Era notável, todavia, seu esforço em
procurar não deixar transparecer o que lhe ocorria no íntimo.
O momento mais interessante e também comovente daquela avaliação
médica se deu quando ele passou a afirmar, em tom de lamentação,
que já não poderia mais suportar tantas pressões por muito mais
tempo.
Momentos assim devem ser aproveitados com muita atenção a fim de
darmos a nossa colaboração técnica e humana a essas pessoas que
sofrem caladas sem saber exatamente o que fazer e como proceder
diante de tantas e diversas pressões. E não poucas delas estão
psíquica e afetivamente muito mais enfermas do que aparentam.
Pessoas em situações semelhantes a daquele indivíduo podem vir a
desenvolver quadros muito variados e mesclados envolvendo
diferentes transtornos psiquiátricos, quando já não os
desenvolveram e disto sequer se deram conta. Porém, ao podermos
detectar as causas desencadeantes do adoecer psíquico, já temos
pelo menos meio caminho andado rumo a um diagnóstico correto e a
um tratamento adequado.
Se observarmos, atentamente, casos como o relatado acima,
poderemos identificar o componente do medo e da insegurança
impregnando o ambiente mental dessas pessoas e em não poucas
vezes levando-as a adoecer. Uma avaliação psiquiátrica precisa
tem, obrigatoriamente, que levar em conta diversos detalhamentos
do ambiente no qual o indivíduo se encontra inserido.
Não é, portanto, sem razão que a insegurança e o medo se
constituem em fatores desencadeantes, ou mesmo responsáveis pelo
adoecer psíquico em diversas situações.
Algumas Características de Insegurança Interior
Muitas pessoas inseguras manifestam uma ou mais das
características listadas abaixo:
1-Sentimento de desesperança diante de problemas, conflitos e
preocupações.
2-Sensação de não ser capaz o suficiente para enfrentar e
resolver os problemas da vida.
3-Sensação de estar sempre escalando uma montanha sem nunca
conseguir chegar ao topo.
4-Sensação de falta de apoio no lar, na vizinhança, no trabalho,
entre os amigos.
5-Sensações e medos frequentes de desaprovação e de rejeição e
de críticas negativas.
6-Falta de direção, dificuldade de estabelecer metas e de
cumpri-las.
7-Sentimento de estar sempre “desenturmada”, “deslocada” ou se
sentindo estranha mesmo nos grupos sociais nos quais convive.
Uma vez estabilizada a pessoa com a ajuda de um tratamento bem conduzido, é sempre importante detectar os fatores desencadeantes tanto do sofrimento como do adoecer mental. E uma vez identificados esses fatores, o melhor a fazer é buscar administrá-los bem e, quando possível, livrar-se deles, e o quanto antes.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo