A Alma Humana e a Psiquiatria
Definir a alma humana em termos psiquiátricos seria objeto para
um aprofundado tratado sobre Psiquiatria, o que teria que,
obrigatoriamente, considerar diversos aspectos médicos,
filosóficos e teológicos, principalmente. Ainda assim,
discorrerei, ainda que brevemente, sobre este tema.
A porção mais vital dos seres humanos, a saber, a alma humana,
em latim anima e em grego psyché, significa: fôlego de vida.
Distingue-se de corpo por ser este uma estrutura física (soma) e
no qual reside a alma (psyché). Em psiquiatria, psiquê possui
praticamente o mesmo significado de mente. Praticamente, digo,
porque as definições da psiquiatria e da psicologia para psyché
limitam e restringem o seu amplo significado reduzindo-o à
limitada abrangência do vocábulo mente. A alma contém a mente e
a mente faz parte da alma, não podendo existir mente sem alma
(psyché).
Em uma definição simplificada, alma e mente podem ser entendidas
como sendo a porção do ser humano que pensa, que decide, julga,
aprecia, sente, percebe, se alegra ou se entristece, que ama ou
que odeia, que cria ou que destrói. Às atividades da mente
chamamos de psiquismo (ou atividades psíquicas), o que engloba o funcionamento da mente,
os amplos e complexos fenômenos psíquicos e os processos mentais. No conjunto das
atividades da mente se encontram também os afetos (sentimentos e
emoções).
O materialismo no âmbito da filosofia, aliado à ideologia
humanista secular, tem procurado desesperadamente demonstrar que
o ser humano não passa de um grande agrupamento de células
geneticamente orientadas. Porém, o fracasso dessa tentativa
materialista e humanista secular de definir o ser humano é algo
bem mais do que evidente, pois o ser humano é algo muito mais
sublime do que um organismo feito de carne e ossos, e a
concepção materialista simplesmente não alcança, nem de longe,
os verdadeiros anseios e as reais necessidades da alma humana. É
justamente na concepção materialista e humanista secular do ser
humano que se encontra, por exemplo, a justificativa
ideológico-filosófica e anti-cristã para a prática do aborto,
não importando quando ou em que período gestacional se encontre
o concepto (a criança em gestação).
Procurando se fundamentar no enorme avanço técnico e científico
dos nossos dias, há quem chegue ao patético e estranho ponto de
afirmar que a alegria e a tristeza, o amor e o ódio são apenas
expressões neurofisiológicas de células cerebrais, um
reducionismo incorreto e assombroso. Algumas dessas teorias são
bastante sofisticadas e até mesmo sedutoras. Mas a realidade é
que não há comprimidos para a solidão e nem há drágeas para as
carências afetivas. E a porção do ser humano que percebe a
solidão e que sofre pelas carências de afeto é a alma, a psiquê,
em seu sentido mais abrangente. Os remédios para a alma não
são físicos, assim como a própria alma não é algo tangível e
palpável, mas antes transcende e vai muito além do que se
encontra de modo perceptível no restrito território dos sentidos
(sensopercepção) em sua interação com o universo físico.
A alma humana possui uma linguagem própria, e essa linguagem tem
sido, invariavelmente, a mesma em todas as pessoas ao longo de
toda a História. O riso e o choro, por exemplo, são expressões
da alma facilmente perceptíveis universalmente. Porém, a alma
possui diversos modos de expressar suas alegrias e suas
tristezas, de comunicar suas necessidades mais íntimas e mais
urgentes, e ainda de buscar ser valorizada e notada. Esta é uma
singularidade que nos torna profundamente sensíveis quer seja à
alegria quer seja ao sofrimento. O problema é que para muitas
pessoas diversas manifestações da linguagem da alma soam
desconhecidas, algo como um idioma de uma nação distante.
Existem muitas pessoas ao nosso redor cujas almas estão bradando
em alta voz suas necessidades e carências, mas não estão sendo
ouvidas porque sua linguagem não está sendo compreendida.
Psiquiatria (do grego Psyché = alma; + iatria = tratamento
médico) é a especialidade médica que diagnostica e que trata dos
transtornos da mente, da personalidade, dos afetos e do
comportamento. A alma humana é, portanto, motivo de atenção da
psiquiatria. E uma psiquiatria que não compreende a alma das
pessoas, já deixa de poder ser chamada de psiquiatria, pelo
menos em seu sentido semântico.
A mente (psyché) e o cérebro (soma) se relacionam de modo íntimo
e intrínseco, embora tenhamos que admitir que esta relação entre
os aspectos físicos do cérebro e os aspectos invisíveis da mente
não é algo completamente compreendido pela ciência sendo motivo
histórico de inquirição pela Teologia, pela Filosofia e por
diversas ciências que
estudam a mente humana. Na realidade o objetivo desta
compreensão transcende o que se conhece por ciência e o que se
entende por filosofia. Em uma perspectiva meramente humana a fim
de se compreender a alma, todas as ideologias nada mais são
do que obstáculos e empecilhos à verdadeira compreensão do que é
a mente humana.
Podemos, por exemplo, estudar as diversas áreas encefálicas e
cerebrais, qualificá-las e também quantificá-las. O órgão
cerebral pode ser visto por exames de imagem, mas a mente não
pode ser visualizada por estes recursos. Não se pode submeter pensamentos
e sentimentos à medições de volume, de intensidade e muito menos de
amplitude de abrangência.
A mente é, portanto, o território invisível da constituição
intrínseca do ser humano. A mente só pode ser vista pela própria
mente, ou seja, por uma leitura mental consciente e saudável.
Excluam-se aqui as teorias psicanalíticas de Freud, Jung e
Lacan, cujas construções teóricas encontram amplo espaço no
território da fantasia e da especulação, mas longe estão da
realidade e da comprovação da ciência e, principalmente, da própria
experiência humana ao longo de toda a História. O chamado inconsciente psicanalítico é
absolutamente carente de comprovações e de demonstrações
científicas. E mais ainda, toda a experiência humana contradiz
de modo veemente as visões e as fantasias concebidas pela mente
enferma de Sigmund Freud. O pai da Psicanálise, Sigmund Freud,
via a mente sob uma perspectiva meramente humanista secular e
materialista, por isso ele jamais pôde compreender a mente
humana.
Afetos, Sentimentos e Emoções. A Afetividade
A leitura técnica da mente, após ter sido realizada, precisa de
termos que possam traduzir e transmitir o que foi observado e
onde foi observado, por isso a necessidade de uma terminologia
especial e específica, a qual é utilizada pela Psiquiatria.
Embora notáveis esforços estejam em curso buscando uniformizar a
linguagem para a definição dos fenômenos psíquicos e afetivos
que ocorrem no ser humano, na realidade esta uniformização está
ainda longe de ser clara e definitiva. E isto é bastante
compreensível devido à enorme complexidade da mente humana. O
importante é entender que diversos termos utilizados pela
psiquiatria não possuem o mesmo significado quando utilizados na
linguagem popular. Porém, de modo simples, podemos entender como
afetividade o conjunto de sensações internas e de sentimentos
experimentados pelas pessoas, sensações e sentimentos estes que
obedecem a um mesmo padrão de funcionamento humano, ainda que
possamos ser tão diferentes uns dos outros em nossas
características íntimas e pessoais. Sendo assim, compreendam-se
os sentimentos e as emoções como pertencentes ao conjunto dos
afetos, ou seja, da afetividade.
Humor
Podemos entender como humor o estado de ânimo de uma pessoa, o
qual está sujeito a variações normais e a variações anormais.
Sobre as variações anormais do humor, as quais chamamos de
transtornos do humor, este é um dos territórios alvo da
psicopatologia (o estudo das doenças da mente) e da psiquiatria
(a especialidade médica que diagnostica e que trata dos
transtornos da mente, da personalidade, dos afetos e do
comportamento).
As elevações anormais do humor são chamadas pela psiquiatria de
Mania (em alguns casos de Euforia), e os rebaixamentos patológicos do humor são chamados de
Depressão. Daí dizermos que o humor de uma pessoa pode estar
eufórico ou deprimido. O humor pode estar rebaixado ou elevado,
ou seja, a pessoa pode estar animada ou desanimada, e isto
dentro das variações normais do humor nas quais os fatores
externos (os acontecimentos do dia a dia) desempenham um
importante papel.
Personalidade e Caráter
A personalidade e o caráter são as duas principais e mais
íntimas peculiaridades de cada pessoa. Embora sejamos
semelhantes estruturalmente, pois somos seres semelhantes, as
características íntimas e pessoais de alguém são os fatores
determinantes da individualidade e da riqueza do fato de sermos,
ao mesmo tempo, únicos e insubstituíveis. Ou seja, nem mesmo os
gêmeos univitelinos são realmente iguais entre si.
A personalidade e o caráter de uma pessoa são as suas
características próprias e invisíveis que as distinguem umas das
outras, inclusive no aspecto moral. A personalidade e o caráter
das pessoas se expressam através do comportamento.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra